terça-feira, 27 de julho de 2010

Pendurado na Parede Como um Rostinho Bonito na TV

Nikolaus Harnoncourt é um maestro alemão que escreveu um dos livros mais badalados filosofando sobre a música chamado “O Discurso dos Sons”. E ele abre o livro falando:

“Da Idade Média à Revolução Francesa, a música sempre foi um dos pilares de nossa cultura, de nossa vida. Compreendê-la fazia parte da cultura geral. Hoje, no entanto, ela se tornou um simples ornamento que permite preencher noites vazias com idas a concertos ou óperas, organizar festividades públicas ou, quando ficamos em casa, com a ajuda dos aparelhos de som, espantar ou enriquecer o silêncio criado pela solidão.”

Não preciso dizer muita coisa para que você tenha material para reflexão. Mas vou ilustrar com algo mais dentro da sua provável realidade, considerando que os consumidores de música popular são em maior número que os de erudita.

Eu fiz parte de um tributo ao grunge no Groove bar aqui em Salvador com um grupo de músicos, e isso foi realmente um êxtase pra mim, pois sou fascinado pelo movimento. Após o evento, ainda empolgado, fui ler um pouco sobre o movimento e li coisas interessantes no wikipedia, e uma delas, é que o que tornava o movimento uno era que todas as bandas tinham um desprezo pela sociedade vigente e que eles combatiam isso. Verdade...quem não lembra de Kurt Cobain (do Nirvana) vestido de mulher e esculhambando nos programas de auditório? Quem não lembra de Eddie Vedder (Pearl Jam) escrevendo Pro-Choice no braço no acústico do Pearl Jam provavelmente porquê não podia falar palavrão na TV?





Lembrei de “Room a Thousando Years Wide”, música do Soundgarden do CD Badmotorfinger que tem uma guitarrinha chata na música!!! Muito chata mesmo....e fui ouvir sob essa nova ótica, que embora eu sempre soubesse, só caiu minha ficha agora. A guitarrinha chata se tornou a cereja do bolo!! Badmotorfinger virou meu “CD favorito dessa semana”!!



O que uma coisa tem a ver com a outra? A música “Room a Thousand Years Wide” não é bonita (o refrão é bala!!), mas eu compreendi a música como diria Harnoncourt. Mas foi preciso uma mudança drástica na minha forma de encarar a música e a cultura porquê isso de fato não nos é ensinado!

Ninguém nos obriga a ter que buscar entender a arte, ou a cultura mas eu gosto de pensar e defender a ideia de que a arte nos modifica se nós buscarmos compreendê-la e não só pendurar na parede como um “rostinho bonito na TV”, pois ela tem que ter conteúdo ou será mais um Ex-BBB em nossas vidas quando pode ser muito mais. Ouvir música pra dançar, espantar o silêncio criado pela solidão, animar festividades, isso tudo é valido mas só isso? Há tanto conteúdo que pode ser inserido!!

Se questionem que cultura estamos cultivando, que movimento existe na nossa arte, que estilo de música, pintura, teatro estamos vivendo, e você vai enxergar claramente a nossa sociedade se manifestando, e aí de repente você pode não gostar do que vê, e ao invés de fazer uma música com uma guitarrinha chata só pra incomodar, e nem ir pra TV vestido de mulher com o braço rabiscado de pro-choice, você procura se educar artisticamente e culturalmente e educar as pessoas a sua volta e assim ir, além do belo e do agradável, até uma compreensão maior das coisas.

Leiam também “Um povo musical” escrito por Galldino, violinista do Teatro Mágico. Um excelente texto http://www.galldino.blogspot.com/

Um comentário:

  1. Fantástico texto Dimazz!
    Acho interessante acrescentar ao seu raciocínio a questão da leitura, e da valorização da ciência (ok!) mas e os cientistas (estão sendo devidamente valorizados?)...
    Enquanto uma caricatura bem humorada sugiro uma passadinha nesse site:

    http://www.posgraduando.com/graficos/graficos-sobre-a-vida-universitaria

    Abraço,
    Renata.

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